Presidente de sociedade científica se diz 'chocada' com cortes do governo
O corte de 22% no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação foi recebido pelos acadêmicos como uma ameaça ao desenvolvimento do País. Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), usou palavras fortes para comentar a decisão do governo federal.
“Nós ficamos chocados. É contra tudo o que a presidenta Dilma tem falado”, afirmou Nader, que é biomédica e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Qualquer que seja a explicação, a SBPC não aceita”.
A pesquisadora lembrou que a pasta já sofreu um corte semelhante no ano passado, e disse que vários projetos foram afetados. Ela criticou também o corte de R$ 1,93 bilhão no orçamento do Ministério da Educação.
“Cortar em educação e ciência é, na visão da SBPC é dar um tiro no pé”, comparou. Para ela, não investir nessas áreas é optar por uma economia "extrativista, sem inovação", que não condiz com a posição que o Brasil almeja.
Na quarta-feira, o governo federal anunciou um corte de R$ 55 bilhões no orçamento de 2012. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, alegou que o corte ajudará o governo a cumprir a meta cheia de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda) de R$ 140 bilhões em 2012.
A área de Ciência perdeu uma fatia de R$ 1,48 bilhão dos R$ 6,7 bilhões previstos.
'Linha de montagem'
Na visão da cientista, o progresso econômico depende do desenvolvimento tecnológico e do domínio do conhecimento. “É uma linha de montagem que começa na educação pré-básica”, expressou, insatisfeita com os cortes na educação.
“Podemos ser a sexta economia do mundo, mas estamos anos-luz atrás da Inglaterra em ciência”, ironizou, em referência à notícia de que o Brasil ultrapassou o Reino Unido e assumiu a sexta posição no ranking do produto interno bruto (PIB).
“Eles têm escola pra todo mundo, ciência, tecnologia e inovação”, completou Nader, na comparação. O Brasil ocupa a 13ª posição na lista de artigos científicos produzidos por país.
No ponto de vista da pesquisadora, o investimento em ciência deve partir necessariamente do governo. “Ou é uma política de estado, ou o Brasil não vai sair do mesmo”, alertou. Segundo ela, os cofres públicos são a maior fonte de investimento em ciência nos principais produtores de conhecimento do mundo.
Nader lembrou ainda que Dilma escolheu a ciência como uma das prioridades de seu governo, quando se elegeu. “Nós estamos perguntando onde está essa prioridade”, questionou a presidente do SBPC.
Ela falou ainda sobre a intenção de Dilma de fornecer bolsas de estudo no exterior e repatriar pesquisadores brasileiros que trabalham em instituições estrangeiras.
“Se eu digo que quero trazer os cérebros de volta, não posso sinalizar um corte no orçamento do que é o futuro do Brasil”, ponderou Nader. Segundo ela, os pesquisadores que voltam “voltam porque acreditam que podem mudar esse país, mas está difícil, está muito difícil”.
Fonte: Tadeu Meniconi, https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/02/presidente-de-sociedade-cientifica-se-diz-chocada-com-cortes-do-governo.html